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A VIDA FAZENDO HISTÓRIAS
A VIDA FAZENDO HISTÓRIAS

A VIDA FAZENDO HISTÓRIAS

 

 

 

EU 

 

Nasci, no dia 08 de julho de 1948, na rua Garibaldi nº 410, no Bairro da Barra Funda, em São Paulo. Neste dia por volta das 7:00 horas, meu irmão Antônio “jurou” ter visto uma cegonha cor de rosa pousando no pequeno jardim interno de nossa casa, e que no seu enorme bico carregava um bebê – eu. Hoje passados quase 60 anos, quando nos reunimos e a história vem à tona ele ainda jura que a viu. Em 1948, as crianças ainda acreditavam no maravilho sonho da cegonha.

Formava-mos uma família feliz, com profundas marca da cultura de nossos antepassados portugueses e italianos. Não tenho pretensão nenhuma ao contar minhas memórias – histórias que ouvi de meus pais – Maria Ludovina e Antônio, somente a de deixar como recordação para os meus filhos e netos, quem sabe aos bisnetos, os casos que por muito tempo ouvi.

 

Minha avó Cecília

 

Cecilia de Barros, era o nome da minha avó paterna. Menina rica, criada no luxo dos meados do século 19, em uma fazenda de café do Vale do Paraíba, na cidade de Taubaté, onde passava as férias ao lado dos avós e da mucamas.

Certo dia chegou a fazenda, um imigrante italiano, que tinha por profissão a de artesão – ele confeccionava sapatos - e viajava pelo interior paulista para vender seus produtos. Quando viu a fotografia de Cecilia no piano ficou impressionado com a moça. Recebeu os pedidos, retornou a São Paulo, apressadamente concluiu a encomenda e em seu retorno a Taubaté pediu então a moça do retrato em casamento.

Minha avó contava, que quando foram busca-lá no colégio de freiras onde ela estudava e disseram que ela iria se casar,levou um grande susto, mas susto ainda maior teve ao se encontrar no dia do casamento com o noivo. Um italiano, alto, claro,com suíças – estilo de barba da época – e14 anos mais velho do que ela. Ela com 14 e ele com 28, meu avô Francisco Antônio Nico, um calabrês da Província de Consensa – Régio Calábria.

Um dos pontos mais bonitos desta história, é que antes de se consumar o casamento, meu avô, namorou sua linda esposa, até que ela o amasse. Amor este que durou até o fim da vida deles.

O Baile

 

Minha irmã Oneyde, 10 anos mais velha do que eu, uma moça muito linda, corpo perfeito,pele clara, cabelos castanhos, levemente ondulados e olhos deslumbrantemente azuis, iguais aos do meu pai. Tinha uma amiga Hilda que frequentava nossa casa, desde pequenina. Certo dia, as duas foram convidadas para um baile, e logo cedo começaram os preparativos. Na época eu devia ter uns 7 anos e elas 17 e prometeram, me levar ao baile caso eu as ajudassem nos tais preparativos. Foi um dia de corre-corre. Sueli!, vá ao sapateiro..., vá buscar os saiotes na engomadeira – Dona Giorgia _,vá na farmácia comprar grampos para o cabelo, laquê – antigo spray – vá pegar o batom..., me ajude a amarrar a citorita – uma espécie de espartilho para diminuir a cintura... e a pobre da Sueli correu o dia inteiro! Quando chegou a tal hora do baile, eu toda faceira perguntei. Já posso me arrumar? Oh! Que pena !.Você não pode ir, pois é muito pequena! Fiquei tão decepcionada e com tanta raiva que peguei uma tesoura e cortei o par de brincos lilás – combinando com o vestido de tule da mesma cor - que minha irmã tinha comprado na Casa Slopper

especialmente para aquela noite. Foi por pouco que eu escapei.

O Picolé

A cidade de São Paulo, nas décadas de 20 e 30 já proporcionava aos seus moradores e visitantes algumas – muitas novidades – inclusive o Picolé – Meu tio Claudionor, casado com uma irmã de minha mãe, tia Emília, recebeu a visita de seus avós vindos da cidade de Anápolis em Goiás. Os visitantes estavam maravilhados com a cidade, com os arranha-céus, o bonde, a iluminação pública, o asfalto, e o incrível trânsito de pessoas e de automóveis da época.

Certa manhã tiveram a curiosidade de ir até o centro da cidade, e depois de visitarem alguns pontos turísticos, encontraram já na hora de retornar ao bairro de Santana, onde estavam hospedados, um sorveteiro, que vendia picolés. Diante da tal novidade decidiram levar alguns para a casa. Embarcaram no bonde e lá foram felizes da vida, até que derrepente, os picolés começaram a derreter. O pior da história, foi terem chegado todos lambuzados ( na esperança de salvar os tais picolés) e ainda de terem contado a toda a família o que tinha acontecido .

 

 

COMIGO É ASSIM

 

O Comigo é Assim, era um clube de baile que havia no bairro de Santana, lá pelos idos de 30. Era carnaval, e a grande parte dos moradores do bairro iam ao salão para a grande festa do rei Momo. Meu pai fazia parte da diretoria e com tal função, foi indicado para ficar na portaria para inclusive selecionar as pessoas, só era permitida a entrada de sócios e de poucos seletos convidados. Ficou o pobre ( do meu pai ) por 3 dias na portaria, não podendo brincar nem flertar mais de perto a sua amada, minha mãe. Enquanto ele ficava na portaria, ela se divertia no salão em meio a confetes e serpentina. Meu pai bolou então um “grande” plano para não ser mais escalado para portaria. Pediu emprestado a fantasia da sua irmã mais velha ( tia Estela), e na última noite, na terça-feira, vestiu-se de baiana e foi para o clube. Diante de tal figura, os outros diretores o liberam de todas as funções. Quando então minha mãe chegou, ele pediu a ela que dançasse com ele naquela noite. O que ela respondeu de imediato. Eu não danço com mulher!

 

Os presentes de Portugal

 

Meu tio José Paulino dos Santos, português, casado com uma das irmãs da minha mãe, tia Lucinda, e que na época 1970, morava em Anápolis, recebeu uma carta de Portugal onde o cartorário lhe comunicava que havia uma certa herança, e que ele deveria ir até lá para recebe-la.

Meu tio ficou muito contente e rumou para nossa casa em São Paulo, e de lá programou toda a papelada para a viagem, ficando para isso hospedado por mais ou menos um mês.Diante da insistência dele, pois todos os dias perguntava a minha mãe o que ela queria que ele trouxesse, ela então disse a ele. Oh! Paulino, então traga ( que eu pago ) duas pulseiras de ouro, uma para cada uma das meninas- eu e minha irmã – e para mim uma fieira de castanhas secas para fazermos uma sopa. Meu tio então disse,mas vai ser com muito prazer comadre – minha mãe tinha batizado uma de suas filhas. O tal dia da viajem chegou, e lá foi Paulino para Portugal buscar a herança. Certo domingo ensolarado, passados três meses, estavamos reunidos diante da T.V assistindo o clássico de São Paulo e Corinthians, quando um táxi para em nossa porta, e lá estava nosso tio. Depois dos comprimentos e de nos contar alguns pequenos detalhes da viajem, foi logo falando para minha mãe. Comadre, não trouxe as pulseiras que me encomendaste, porque o ouro em Portugal esta mais caro do que acá. E também não pude trazer a fieira de castanhas, porque não existem mais castanhas em Portugal, mas em compensação trouxe para o compadre um bela garrafa da verdadeira bagaceira portuguesa. Minha irmã então prontamente foi buscar uma bandeja de prata e pequenos cálices de cristal, para brindarmos tal preciosidade. Mas qual! Era água! Até hoje não descobrimos se alguém no navio em que ele viajou colocou água na garrafa ou então foi ele mesmo.

 

OS BOLINHOS

 

Meu avô Francisco, como todo bom italiano, era um grande cozinheiro e adorava nos finais de semana preparar a pasta – massa feita em casa – e os assados, principalmente cabrito. A tarde já era esperado seus famosos bolinhos envoltos com canela e açúcar que cheiravam ao longe.

Crianças brincavam nas ruas, jogando bola, soltando pipas, bolinhas de gude, etc., e o cheiro dos bolinhos era um convite para irem pedir para o meu avô. Giuseppe um desses meninos, era cliente assíduo, e sempre ganhava dois bolinhos, um para ele e outro para seu irmão menor, mas sentava na escada da casa do Sr. Francisco, e ali mesmo comia os dois bolinhos.

Meu avô por muito tempo, indignado com a gulodice de Guiseppe, resolveu buscar na várzea do rio Tietê duas bolinhas de cocô de cavalo bem sequinhas e prepara-las como se fossem os tais bolinhos. Dito e feito, no domingo seguinte la estava o menino pedindo os dois bolinhos. Depois de envoltos na massa, fritos e polvilhados foram entregues a ele, mas antes a recomendação. Veja bem bambino um é para você e outro para o teu irmão. Obrigado seu Chico! Logo em seguida senta na escada e repete o que a anos vinha fazendo, mas quando dá a primeira mordida diz em altos gritos. Filha da Puta, é merda!

 

DONA MARIA DAS CLARAS

 

Como era costume no início do século passado, os imigrantes normalmente formavam uma espécie de núcleo de povoamento, dando origem a bairros com características própria, ex. Bom Retiro , bairro de judeus, Bela Vista ( Bexiga ) de italianos, Liberdade de japoneses..., na parte alta de Santana, os portugueses. Todos eram irmão, primos, tios, compadres,amigos. E dentre os amigos de minha avó materna, Sophia, nascida carioca, mas batizada e criada em Granjal (Portugal), havia uma amiga Dona Maria das Claras, casada com Manoel. Mãe de vários filhos, labutando o tempo inteiro dona Maria custou a perceber que o marido há traía já algum tempo. Até que certo dia desconfiada das saídas sorrateiras do marido, resolveu segui-lo. E não deu outra. Entrou porta adentro de uma certa casa e pegou o gajo com a boca na botija, ou seja em pleno ato de amor com uma vizinha. Explodindo de raiva, Dona Maria que levara um grande vara na mão, enfiou as ceroulas de Manoel, e saiu a gritar.” Venham todos, venham todos, ver a pouca vergonha do safado do Manoel da Maria das Claras, venham..., venham”... Seu Manuel, corre sem roupas e pede abrigo na casa de minha avó, sua prima afastada. Passados alguns dias depois, vem as desculpas e os perdões. Seu Manoel, volta para casa, mas, Dona Maria nunca mais fez amor com ele sem que ele deixasse na mesinha de cabeceira alguns trocados. E dizia. Já que tens para pagar as rameiras, que pagues a mim, também!

 

 

 

TEU PAI NÃO VIU

 

Fausto, irmão de minha mãe, foi casado com Maria, moça vinda da cidade de Anápolis com usos e costumes bem diferentes, Certo dia, ela e Sebastião, seu primeiro filho, sentaram-se a beira da porta da cozinha, e, de pedacinhos, a pedacinhos comeram quase toda uma lata de goiabada